terça-feira, 12 de março de 2013

SANTA IGNORÂNCIA (por Theófilo Silva)



As especulações da imprensa acerca da renúncia do papa Bento XVI, bem como do conclave e do cardeal que poderá sucedê-lo, demonstram uma gigantesca ignorância de como funciona a igreja. O cerne das notícias é de que o novo papa deve ser brasileiro, africano, novato, ou de um país com maioria católica. Para eles, a lógica tem que ser a mesma que rege a política, tudo tem que ser feito de forma “democrática”. Santa ignorância!

A Igreja católica representa o status quo, uma instituição de quase dois mil anos de existência que foi se fragmentando ao longo do tempo, sendo dividida em várias outras seitas e religiões cristãs. Mas que, ainda assim, detém um número de fiéis que chega perto de 20% da população mundial. Se contarmos apenas com o ocidente, esse percentual pode chegar a 40%.


Em uma época em que prevalece a destruição de quase tudo o que pertence ao passado, como se o passado representasse apenas obscurantismo e repressão – e de que tudo o que é novo é bom para a humanidade – a igreja católica, a mais antiga das instituições, tornou-se o alvo preferido daqueles que defendem que “tudo deve ser modernizado”.   Como se modernizar tivesse para a igreja o mesmo sentido que tem para o mundo secular.


Para a Igreja, essa “modernização” é uma praga. E, assiste horrorizada,  a devastação que está sendo feita, nesta que é apontada, até pelos indivíduos mais radicais, a célula mater da sociedade: a Família.
Para piorar o quadro, uma minoria de religiosos, padres, bispos, diáconos e outros têm sido constantemente acusados de assédio sexual contra crianças. Um dos crimes mais condenados pela sociedade moderna. Crimes que, muitas vezes, contam com o acobertamento da própria igreja. A chamada pedofilia de padres, que ocorre em vários lugares do mundo, tem arranhado fortemente sua credibilidade.

Sabemos que,  o tempo no que se refere a Fé, principalmente nas religiões, não é o mesmo que o da Razão. A rapidez trazida pela tecnologia da informática apressou o tempo, e a igreja  não percebeu isso. Ou se percebeu, não conseguiu reagir a contento.

Pergunto  se já não estava na hora da igreja católica rever a questão do celibato dos padres? O chamado voto de castidade, um dos pilares do juramento dos pregadores, parece ter empurrado alguns padres para o desvio sexual da pedofilia. Não sei quanto tempo esse debate pode durar,  vinte, quarenta, sessenta anos, mas acho que é chegada a hora de começar.


Quando o idoso cardeal Ratzinger foi apontado como o provável sucessor do extremamente carismático papa João Paulo II, a imprensa taxou o cardeal alemão como reacionário, e que ele seria o chefe da famigerada Inquisição. Muito embora saibamos que a Inquisição foi extinta  no século XIX. O outro entrave seria sua idade avançada, que o impediria de dar conta das exigências do cargo. Passados oito anos, quando, Ratzinger, o Bento XVI, resolveu renunciar apontando fadiga, a imprensa não lembrou que o chamara de velho e cansado. Portanto, incapaz de dar conta do cargo.

Todo ambiente de poder é dominado por disputas. Não seria muito diferente em uma instituição presente em todos os continentes e países do mundo, com mais de um bilhão de fiéis e de milhões de pessoas envolvidas na sua estrutura. A igreja católica detém ainda um patrimônio que ultrapassa dois trilhões de euros. Ou seja, tem um PIB muito maior que o do Brasil. Então, é preciso preservar esses bens, sem os quais a Igreja não teria força.

A Igreja fala em crise da razão, enquanto a turma do lado de fora diz que a crise é da fé. Enquanto o debate prossegue, uma constatação deve ser feita, e nesse ponto a igreja tem razão, que é a brutal crise que vive a família no ocidente. O casamento, essa instituição complexa, nunca foi tão desmoralizada quanto agora. Homens e mulheres ao se casarem, são como, no dizer de Shakespeare: “Fogo e pólvora: se encontram e se consomem”. Os casais estão desesperados, porque não conseguem ficar juntos, e viver com seus filhos, constituindo uma família. E não entendem o porquê.


Bento XVI renunciou por amor à Igreja. Porque é um homem de fé. E com sua renúncia chamou à razão alguns colegas egoístas que esqueceram que são homens de Deus. Seu ato deverá ajudar a igreja a superar obstáculos e melhorar sua relação com os fiéis.

Quanto ao papado, sempre enfrentou crises, deboches e ataques, mas preservou sua integridade. Shakespeare fala que na época de Henrique VIII, na Inglaterra, havia macacos treinados para rolarem no chão gritando, toda vez que alguém berrava Pope (papa em inglês).

É isso que muitos “analistas” estão parecendo quando fazem observações tolas sobre a igreja e o papado: macacos rolando no chão.


* Copiado do blog: http://theofilosilva.com/home/ do cearense radicado em Brasília Theófilo Silva.

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