quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O QUE PENSO DO FACEBOOK (por Theófilo Silva)

  Reprodução


Com certeza nenhum dos brinquedos criados pela revolução digital teve um número de adeptos nem fez um sucesso tão grande quanto o Facebook. O Site veio para resolver as frustrações de todos e acabar com a figura do anônimo na multidão. Agora todo mundo é artista, com direito de mostrar a cara e ter a vida alardeada. O desejo de ser amado – principal necessidade do ser humano – está agora saciado. Diga o que pensa, sente, ama, odeia, enfim, conte sua vida para todo mundo. Diga tudo, menos a verdade.

Todos os desejos infantis não realizados, por qualquer limitação que seja, ficaram para trás, o futuro que não construí no passado foi superado. Os textos e imagens postados no meu Perfil superam minha limitação ou castração. Assim, uma foto com os dedos sobre as teclas de um belo piano, em algum lugar elegante, me transforma num pianista; uma frase de Dostoievski me faz um conhecedor do atormentado escritor russo; uma foto em frente à Torre Eiffel (a mais postada de todas) torna-me um parisiense conhecedor de Proust e Victor Hugo; uma imagem com o filho na Disneylândia é obrigatório. Pais que não levam os filhos a Disney não os amam.
Uma postagem que não pode faltar é a do cãozinho elevado à categoria de filho dileto; uma foto em frente ao “All Souls College” torna-me aluno de Oxford; uma foto com pessoas sorridentes na mesa de um belo restaurante, com duas garrafas de vinho bem caras, cercada de queijos, com um livro de Joyce do lado (em inglês), é imprescindível, e está completo meu sucesso. Todos agora já sabem que pessoa culta e refinada sou eu!
A quantidade de amigos no alto de minha página: 278, 1000, 5000 mil amigos é fundamental. Muito embora, eu não conheça mais do que uma dúzia deles e, alguns talvez sejam bandidos. Não importa, o importante é a quantidade, porque quanto maior o número de amigos, mais poderoso, feliz e amado eu sou.
Não posso esquecer das fotos dos meus filhos, os mais inteligentes, sensíveis, belos e amorosos que o mundo já viu. Meu Blog – mesmo que eu não escreva uma palavra em inglês – (e o português seja uma tragédia) – é lido vorazmente na Romênia, Holanda, Cingapura, Japão...
Afinal, por que não dizer que eu também sou um sucesso? Quem é que aguenta o trabalho árduo e diário? Quem quer ser apenas médico, advogado, professora, funcionário público, engenheiro, manicure? Se eu posso ser romancista, cineasta, atriz, compositor, pintor, cantor, astrônomo, poeta (todo mundo agora é poeta), e o Facebook me oferece essa oportunidade! Quem há de dizer que eu não sou um criador?
Bom, é mais ou menos isso o que o Facebook, um bom veículo de comunicação entre as pessoas, transformou-se: numa grande babel de fantasias. Sim, não podemos viver sem ilusões, e o Facebook é o maior vendedor de ilusões já criado. Todo esse besteirol postado – seu maior curtidor são os solitários – serve para alimentar um veículo que vive de publicidade e, sem quem alardeie dores travestidas de alegrias, não existiria.
Quem é ferida nesse negócio todo é a Verdade, aquela que não deixa a mente descansar. Sim, a vida real é dura demais para ser encarada, e a ilusão do Facebook a torna mais suportável e, uma vida fantasiosa parece ser bem mais fácil ser vivida.
O que não fazemos para espantar a solidão! A isso, Shakespeare chamou de “cortejo da fantasia”, que “age de acordo com o irreal e faz do nada seu sócio”. O Facebook é espaço para abobrinhas. À noite, com a cabeça no travesseiro, naquela hora que a mente está em alerta, a consciência nos informa que só enganamos a nós mesmos, martelando enquanto nos reviramos na cama: só o trabalho engrandece e dignifica. Só o trabalho...


(Theófilo Silva é articulista colaborador da Rádio do Moreno.)

Um comentário:

Ed. Junior disse...

Mais uma vez um intelectual, ou uma voz intelectualizada, vem despejar verdades contra o "senso comum" as "pessoas normais" a "classe media alienada", "o outro" seja ele quem for estigmatizado com uma generalização qualquer..

Acho incrível... Nunca entendo essa postura arrogante de quem sabe tudo e os outros não sabem nada, são iludidos, alienados "ilusionados" (alienado+iludido) ... Uma olhar de pena até: "olhem como as pessoas se iludem com o facebook e nao vivem suas vidas..." Será?

Porque pensar sempre deveria ser julgar o outro, apontar o dedo na sua cara ao invés de chama-lo para o debate, entender seu ponto de vista e suas "ilusões" - quem não vive delas? Haverá separação entre verdade vida e ilusão nesse nível de quem sabe o que é o certo e o errado?


O facebook como qualquer invento humano EM ESPECIAL OS CRIADOS E VIVIDO DENTRO DA SOCIEDADE CAPITALISTA (É TAO ENGRAÇADO COMO ALGUNS SE ACHAM FORA DESSA SOCIEDADE E SUAS CONTRADIÇÕES SÓ PORQUE SÃO "CRÍTICOS") é contraditório e tem vários fins, usos e mediações, inclusive, a vontade de auto-promoção o de esperar quantos curtirão suas ideias, por mais bobas q sejam são minhas, querer compartilhar para aparecer e muito mais que eu nem sei nem saberei...Ah, a solidão humana, quem pode saber o q ela significa para cada um? Em cada "compartilhar" "curtir" foto vídeo texto ideia postada... As pessoas usam o facebook e vice-versa, quem há de prever ou esgotar tais usos? O debate pode ser sobre isso, não fecha-lo..


EIS O PONTO; QUEM SOU EU PRA DIZER O QUE É O FACEBOOK ONDE QUASE 700 MILHÕES DE PESSOAS ESTÃO PRESENTES, SE NÃO SEI DIZER QUEM É UMA PESSOA COMO POSSO REDUZIR 700 MILHÕES A MINHA VONTADE?

Não tenho nada contra o pensamento crítico, pelo contrário, tento te-lo e acho uma arma fundamental para compreender e mudar o mundo. Mas não posso concordar em julgar os outros por suas ilusões suas razões, se posso analisa-las e dizer o q penso, tudo bem, é meu ponto de vista. O meu ponto de vista é concordar com "nada do que é humano me é estranho' (Terêncio) inclusive o facebook, e sabendo que "eu só posso falar de mim mesmo" (Montaigne)... Duvido de tudo! Inclusive de mim e sei q minha critica não é a unica..

Sim, as pessoas querem aparecer e são vaidosas, (vaidade das vaidades) mas isso são as pessoas, dialogar com isso é meu caminho, até porque sou também assim.. Aliás porque num mundo de ilusões seria o único lúcido? Aliás, quem quer tal lucidez? Quem dirá que as ilusões não são o real e vice-versa? Não quero desconstruir ilusões alheias, quero entende-las. Só não quero ser oprimido ou q se oprima o outro por conta delas...

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