terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Sânzio de Azevedo de Gaveta", de Pedro Salgueiro.

  
(Foto de Francisco Viana, jornal O POVO)

Conheço Sânzio de Azevedo desde a década de 90 do século passado. Vi-o pela primeira vez no lançamento do livro Moreira Campos em quadrinhos, organizado pelo mestre Geraldo Jesuíno, no Salão Nobre da reitoria da UFC. Trocamos conversas e livros e vamos construindo uma amizade que espero seja para sempre.

Tenho aprendido muito com este que considero o "maior conhecedor da literatura cearense e arredores", e nos falamos quase todos os dias, não só de literatura, mas sobre quase tudo; só temos evitado falar ultimamente de política, devido a já termos discutido feio algumas vezes, mas nada que alguns dias de silêncio não tenham curado.

Difícil conversar com ele e não ouvir algumas expressões bem “suas”: “Cortar a casaca da humanidade”, “À puridade”, “Mandraque” e tantas outras que sempre saem de sua boca acompanhada de uma gargalhada meio contida, porém, sincera.

Palestrante sem igual, discorre sobre seus assuntos preferidos com segurança, mas principalmente com um humor bem característico e, acima de tudo, inteligente.

De tanto se destacar como historiador e crítico literário foi restando quase desconhecido como poeta e contista, gêneros que vai levando de forma subterrânea e constante pela vida afora.

Quatro livros de poesias editados e um volume de contos inéditos (alguns já publicados em revistas e suplementos) passam quase desapercebidos até mesmo dos amigos mais próximos.

Em homenagem a esse “Sânzio de Azevedo de gaveta” quero apresentar a vocês o poema dele de que mais gosto (outro dia trago um conto):


SONETO I

O papagaio traz no bico a sorte
do transeunte da cidade grande;
dragões de ferro andam semeando a morte
mas o realejo em música se expande.
Fanhoso, ele renasce a velha valsa
que sobe com o barulho da avenida.
Juntas as duas se afigura falsa
alguma delas na manhã perdida...
Saias-balão, casacas e cartolas
misturam-se aos “blue-jeans” e minissaias;
gemem sirenas, rangem grafonolas,
cresce o edifício em meio às samambaias.
        Rugem motores de hoje antigamente
        ou cantam flautas de ontem no presente?

                 Sânzio de Azevedo. Cantos da Antevéspera (1986).


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